Eu fui para essa palestra esperando uma fórmula mágica para conquistar os “primeiros 100 clientes”. Aquela esperança secreta de ouvir um checklist que resolve a dor de todo fundador. Afinal, o título prometia: “Growth marketing: the path to your first 100 customers”.
Mas a verdade é que o painel trouxe algo muito mais honesto do que qualquer hack de crescimento, um lembrete poderoso de que o início de qualquer negócio não nasce de truques. Nasce de proximidade radical com pessoas reais.
O caso Tally: crescer sem investidores e com transparência total
A Marie Martens, cofundadora da Tally, subiu ao palco com uma confiança tranquila, provavelmente porque não estava vendendo uma narrativa perfeita, e sim contando exatamente o que aconteceu.
A Tally é um construtor de formulários. Em 2020, ela e o parceiro notaram um gap óbvio:
A pergunta que guiou o produto foi simples:
“E se criássemos algo mais simples, bonito e justo para quem está no início?”
O que muda tudo na história é o modelo: a Tally é bootstrapped. Nada de aporte, nada de queimar caixa. Hoje, com apenas cinco pessoas, acumulam ARR de milhões e mais de um milhão de times usando o produto.
O segredo? Construção pública, humana e incremental.
Marie explicou que começou compartilhando tudo na comunidade Indie Hackers. Ali, o ritual era simples: mostrar MRR, ARR, metas e aprendizados de forma transparente.
Essa postura gerou três efeitos muito poderosos:
No fim, building in public não é ego. É estratégia. E eu fiquei pensando o quanto isso pode valer para negócios de saúde, serviços e até clínicas. Às vezes, transparência não ameaça; ela é a marca.
Spinnable.ai: “do things that don’t scale” na prática
Depois veio o Vasco Pedro, fundador da Spinnable.ai, que havia lançado o produto apenas cinco dias antes da palestra. Ou seja, ele estava vivendo o caos do começo em tempo real.
A Spinnable cria agentes de Inteligência Artificial que funcionam como “trabalhadores remotos”. Você descreve a função e o sistema cria um agente que atua por e-mail, Slack, WhatsApp ,etc.
Ele brincou: “Hoje somos 15: 5 pessoas e 10 agentes.”
O que me marcou foi o reforço ao clássico do Paul Graham: “Do things that don’t scale.”
Vasco descreveu ações hiper manuais:
Ele contou que o primeiro cliente pagante quebrou o produto logo de cara e quase desistiu. Só não saiu porque havia diálogo direto. Sem isso, seria mais um churn silencioso.
Os primeiros 100 clientes não são número, são pessoas certas
Marie reforçou algo que vale ouro: não adianta atrair 100 pessoas erradas.
Dá para inflar tráfego com hype e anúncios, mas se o produto não está pronto, o efeito é o contrário: frustração e abandono. Além disso, o que ela fez no início foi totalmente artesanal: milhares de mensagens diretas para pessoas que ela realmente achava que iam amar o produto, mesmo inacabado.
Era lento. Manual. Mas sustentável. E funcionou porque esses usuários viraram verdadeiros embaixadores. No início, audiência não é massa. É tribo.
Tally: cuidado com o mito do crescimento instantâneo
Tanto Marie quanto Vasco tocaram no viés de sobrevivência. Sim, existem startups que explodem de 0 a 1 milhão em dias. Mas são exceção absoluta.
Marie destacou que a IA acelera ciclos de produto — o que antes levava meses hoje pode levar horas. Isso ajuda, mas não muda o essencial: product-market fit ainda leva tempo. Antes disso, qualquer crescimento é teatro.
Ela chamou de KidZania: um ambiente que parece real, mas não é. E foi a melhor metáfora da noite.
O que isso significa para empresas reais, inclusive clínicas e negócios tradicionais
Quando traduzimos essas lições para o dia a dia, o caminho dos “100 primeiros clientes” fica mais claro:
No fim, crescimento inicial não é sobre canal. É sobre intenção. É obsessão por quem está do outro lado.
Se você está estruturando um novo produto, serviço ou unidade de negócio e precisa acelerar a tração com consistência, a Nagata & Gasparini pode ajudar.
Vamos conversar e construir juntos o caminho para seus primeiros 100 clientes e para os próximos 1.000.