O segundo bloco da palestra foi quando eles destrincharam o detalhe mais comentado do caso: o vídeo com a Gwyneth Paltrow e o timing em que surgiu. Todo mundo viu. Todo mundo comentou. E eu queria muito ouvir o que não aparece nos memes: como se toma uma decisão dessas numa empresa, no meio de uma crise real?
Nick foi bem claro: a ideia do vídeo veio depois de 90% do trabalho feito. E esse 90% era plano, stakeholders, mensagens, porta-voz, canais. Com isso pronto, você consegue tomar decisões criativas sem perder o chão.
Por dentro da decisão: técnica, stakeholders e coragem em meio à crise
A coisa mais interessante que ele disse foi:
“A internet precisa ser tratada como stakeholder.”
Se o stakeholder é a internet, a comunicação precisa ser para o feed, e não sobre o feed. Isso muda tudo, principalmente no timing adequado.
E foi daí que entrou a lógica de “uma solução que prenda atenção do jeito que as pessoas consomem atenção hoje”. Eles sabiam que a timeline estava decidindo a reputação da Astronomer. Então precisavam entrar nessa timeline com algo que:
1) ganhasse tração
2) tivesse o tom certo
3) redirecionasse o foco para o que a empresa faz
O vídeo entrega esses três pontos. Ele é leve, pop, e ao mesmo tempo funciona como um “reset narrativo”: ok, você está aqui por causa do meme, mas já que está aqui, deixa eu te contar quem somos.
Allison trouxe detalhes que eu não sabia e que foram decisivos:
- o vídeo começa mencionando “em nome dos 300+ funcionários”
- isso não era acaso; era parte de proteger orgulho interno
- a meta não era só “apagar incêndio” público, mas evitar queda moral e fuga de talentos
E o resultado foi impressionante: segundo ela, o pipeline inbound subiu 50% quase imediatamente depois que a crise começou a arrefecer com o vídeo. Dessa forma, a Astronomer teve o melhor trimestre da história logo na sequência.
Quando a internet é stakeholder: timing, tom cultural e o novo playbook de crises
Mas o painel também foi honesto sobre limites:
Nick disse que isso não é replicável em qualquer crise. Você não faz vídeo engraçadinho para vazamento de dados, independente do timing. Aqui funcionou porque o problema era um espetáculo cultural, não uma falha no produto. Em crises que atingem usuário final, o “tom pop” vira cinismo.
Uma parte que eu adorei foi quando eles falaram sobre o papel da coragem humana na decisão. Além disso, Allison contou que um membro do board jogou a ideia no ChatGPT e recebeu uma resposta fria, conservadora, tirando a criatividade do centro. Ela disse algo como: IA tende a empurrar para o “meio”, para o que já existiu antes. Só que crise pop exige invenção.
Nick foi ainda mais direto:
“o risco não era fazer o vídeo. O risco era não fazer nada.”
E isso é uma mudança brutal na lógica tradicional de crise.
Antes, o playbook era: fica quieto, deixa passar, não alimenta.
Agora, se você não aparece, a última impressão vira a impressão permanente. Se a Astronomer tivesse “hibernado”, ela seria para sempre “a empresa do Coldplay kiss cam”. E acabou.
A internet não guarda silêncio como neutralidade. Ela guarda silêncio como culpa, fraqueza ou irrelevância.
Considerações finais
Em resumo, saí daqui com um framework mental muito útil:
- primeiro: estrutura stakeholders e mensagens
- segundo: lê o código cultural do momento
- terceiro: cria uma resposta tão nativa ao ambiente quanto a crise foi
E lembrei de quantas empresas falham porque tentam responder o novo mundo digital com o velho mundo institucional.
Crise não é hora de improvisar narrativa. É hora de executar com coragem e método.
A Nagata & Gasparini apoia empresas a desenhar playbooks de crise modernos — com internet como stakeholder, regras de tom, velocidade e governança clara.
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